Petrobras: a cotação do dólar e como isso afeta o preço dos combustíveis
O artigo de Milton Friedman, "The Social Responsibility of Business is to Increase its Profits", defende que o principal papel de uma empresa é maximizar os lucros para os acionistas. Sob essa perspectiva, a Petrobras deveria adotar os preços de mercado internacionais para seus combustíveis, buscando garantir um retorno adequado aos acionistas.
No entanto, a implementação dessa abordagem se depara com diversas complicações.
Primeiramente, a Petrobras tem custos de exploração variáveis dependendo do local de extração do petróleo, com um custo médio estimado em US$ 30 por barril. Essa diferença é significativa, considerando que o preço internacional gira em torno de US$ 75. Além disso, parte da produção nacional de petróleo é de tipo pesado, o que exige a exportação desse óleo e a compra de petróleo de melhor qualidade (óleo leve ou combustíveis refinados), o que pode justificar a prática de um “custo nacional” mais baixo, consequentemente reduzindo os preços dos combustíveis para o consumidor brasileiro.
Porém, a Petrobras não é a única fornecedora de combustíveis no país; outras empresas, que importam ou refinam o produto no Brasil, também atendem ao mercado. Caso a Petrobras adote o “custo nacional” de preços mais baixos, isso poderia tornar a importação ou a refinação do produto inviável para essas empresas, gerando um desabastecimento no mercado e uma elevação dos preços posteriormente, como resultado da escassez.
Este cenário leva à conclusão de que a decisão sobre os preços dos combustíveis é complexa. A Petrobras, sendo uma empresa de capital aberto controlada majoritariamente pelo governo, enfrenta um dilema: maximizar o retorno para os acionistas enquanto equilibra considerações de política pública. Esse conflito de agência – onde os interesses dos acionistas e os do governo (enquanto principal acionista) não são necessariamente alinhados – complica ainda mais a questão.
Embora o governo, como maior acionista, tenha o direito de buscar retorno financeiro, também pode querer influenciar os preços dos combustíveis como uma questão de política pública. Essa pressão é ampliada pela instabilidade do câmbio, que torna os preços dos combustíveis importados mais voláteis.
Além disso, a defasagem entre os preços da Petrobras e os dos importadores privados se torna um problema, com o risco de uma redução de preços alimentando a inflação, especialmente se o governo intervier para corrigir essa diferença.
A aposta do governo pode ser tentar reduzir a taxa de câmbio para aliviar a pressão sobre o preço dos combustíveis, mas isso também é um desafio econômico de difícil previsão, dado o impacto imprevisível das flutuações da moeda. Assim, a decisão sobre os preços dos combustíveis se torna uma questão multifacetada, envolvendo uma mistura de interesses corporativos, governamentais e econômicos.
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