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Opinião com Luiz Fernando Alfredo - 14/03/2025



Sócios Indesejáveis

Poucos têm sorte nas sociedades que a vida nos reserva. Embora, às vezes, seja necessário encarar uma parceria mais estreita e limitada para somar esforços, negociar não é um dom comum a todos. Empreendimentos são arriscados e, em regra geral, pouco rentáveis a curto prazo, exceto quando a atividade é de natureza singular, sem concorrência acirrada ou ilícita.
Ninguém encontra sozinho o “ninho da égua”. Sendo assim, duvidamos que uma pessoa de boa índole, que pensa e enxerga além do próprio nariz, consiga viver na ilegalidade. Afinal, isso é um acinte à sua paz interior, que vive sob a expectativa de sobressaltos a esmo, e sua duração é curta, até que a polícia descubra.
A relação societária, por mais perfeita que seja, se desgasta com o tempo, especialmente quando surgem crises financeiras. As amenidades de fim de tarde desaparecem, os petiscos degustados antes de ir para casa se tornam lembranças distantes; e a sociedade fica sob o jugo maldizente das conversas dos parentes dos sócios. Até mesmo o estilo de vida de cada um, passa a ser observado diuturnamente, até que uma faísca, como a de um simples isqueiro, seja suficiente para causar um incêndio na relação, levando a um triste fim ou até mesmo a uma tragédia.
No entanto, não podemos demonizar a sociedade. Muitas vezes, não temos como arriscar tudo sozinhos, e associar-se não é apenas uma questão econômica; somos gregários e precisamos uns dos outros. Por isso, existem outras formas de junção.
A regra simples seria formalizar todos os prós e contras e prestar contas periódicas e rigorosas sobre as ocorrências, obtendo a concordância dos sócios, de preferência, mediante testemunhas. É fundamental evitar a liberdade exagerada, pois, com certeza, um dia ocorrerá o desrespeito, especialmente entre os familiares dos sócios. É importante apagar do dia a dia a exibição e o correlacionamento muito estreito entre os protagonistas diretos e indiretos da sociedade.
Um grande perigo é o caráter egocêntrico e presunçoso dos sócios. Se um deles começar a considerar mal empregado o quanto o outro ganha em relação à quantidade de trabalho, esse é o primeiro sinal amarelo aceso na parceria.
É crucial que um dos sócios ceda quase sempre e jamais misture as famílias nos negócios. Um exemplo que pode parecer absurdo: nas empresas em que trabalhamos e com parceiros que interagimos, inclusive na área pública, sempre evitamos que nossa família adentrasse em qualquer recinto onde estivéssemos em caráter profissional. Raramente, devido aos anos de convivência e imposição social, a presença de nossos familiares em festas de final de ano ocorria, mas fora isso, nunca.
Se estamos fazendo esses comentários, é porque já enfrentamos dificuldades em algumas sociedades que começaram a se desgastar. Portanto, é essencial não misturar empregados e ajudantes em sua casa, a não ser em ocasiões sociais especiais. Caso contrário, as indiretas maliciosas de trabalho, com a finalidade de bajular o interlocutor presente, devastam a raiz e derrubam a "árvore".
Nem sempre tivemos sorte em sociedades, e, acreditem, nossos métodos eram pensados, registrados, disciplinados e resignados. Embora tenha sido difícil, sempre cedemos e debitamos ao silêncio ensurdecedor de nossas insatisfações, tudo para o bem da causa.
Dizer que fomos roubados por sócios é algo que não podemos afirmar, embora sempre percebêssemos nos olhos deles a desconfiança de que estávamos levando vantagens às suas custas. Não é fácil, mas é risível para quem tem senso de humor e consciência tranquila.
Se tivéssemos que começar tudo de novo, acreditamos que teríamos sócios, sim, mas em um estilo que remete à famosa dancinha: "pezinho pra frente, pezinho pra trás". Com certeza, até conseguirmos separar a sociedade em paz, antes que surgissem os desgastes, seria fácil cada um buscar seu horizonte independente, com harmonia.
Com todo respeito aos bons sócios e parceiros que tivemos, e àqueles que ousaram achar que trabalhavam mais do que nós, e, portanto, em suas consciências decidiram fazer justiça a si mesmos, sem que déssemos conta do débito, é evidente que declinamos de suas presenças. Estão desculpados, mas o perdão amadurecerá; um dia ele desabrochará em nosso coração.
Tentamos ser melhores sempre, mas é preciso que entendam que quem apanha deve desculpar rapidamente para não revidar. No entanto, o esquecimento é difícil. Por mais que sejamos indiferentes, o filme teima em se repetir diante de nossos olhos. Até parece que estamos fazendo apologia contra “amar o próximo como a nós mesmos”, mas é cristalino que não negamos o óbvio. Somos politicamente incorretos, e, neste texto, estamos pensando com a cabeça de outro também.
Este texto foi encomendado com veemência por uma pessoa que nos chama de “amigo” quando convém, mas preferimos chamá-lo de “boi de carro”, pois estamos apenas lado a lado. O dito cujo está cansado da vida, falido e decepcionado com os prejuízos e problemas que os sócios lhe causaram. Isso nos sensibilizou – achamos que ele ficará mais triste com o que pensamos dele.
Que pedido estranho! Foi nossa capacidade de empatia e identificação com o caso do “boi” frustrado e irado que falou mais alto – e nos custou apenas vinte minutos de tempo. No entanto, segundo o postulante, para ele, a lição exarada durará o resto da vida, pois deseja guardar e ler o artigo publicado em destaque oficialmente todos os dias, gritando: “Como fui um burro, idiota, babaca, covarde, confiante e acomodado!”.
“Por que não enxerguei que uma porta se fecha e duas se abrem para os homens de bem que correm atrás?” “Precisávamos ganhar, mas não há dinheiro que pague nossa autonomia e tranquilidade”.
A princípio, achamos esta coluna um pouco patética, mas também pedagógica, e, como adoramos dividir opiniões fundamentadas, arriscamos.
A propósito, o “boi de carro” perguntou como era uma pessoa com baixa autoestima. Respondemos: “Certamente, igual ao camelo, que deve se achar tão feio e desajeitado que ajoelha para você montar nele.”
Coitados dos sócios arrependidos!

Luiz Fernando Alfredo

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