O dólar encerra o dia no nível mais baixo desde 20 de dezembro.
O mercado teve um dia de menor liquidez, já que os mercados dos Estados Unidos estiveram fechados em razão do funeral do ex-presidente Jimmy Carter. Essa é uma prática tradicional nos EUA, onde as transações financeiras são suspensas após o falecimento de um ex-mandatário. Os ativos financeiros também foram influenciados por um leilão de títulos prefixados realizado pelo Tesouro Nacional.
A maioria dos papéis disponibilizados no leilão foi adquirida, incluindo 2,5 milhões de NTN-Fs, títulos de longo prazo com rendimento fixo que atraem investidores estrangeiros. Segundo Wagner Varejão, economista da Valor Investimentos, "houve uma demanda superior à esperada, o que resultou em uma queda dos juros futuros e gerou alívio no câmbio, indicando que o fluxo de capitais estava sendo direcionado para o Brasil".
Embora o volume de vendas normalmente não altere significativamente o comportamento do mercado, o efeito foi mais acentuado devido à baixa liquidez provocada pelo feriado nos EUA. Fora o leilão, o dia teve pouca movimentação, sem grandes notícias ou catalisadores, conforme destacou Rodrigo Ashikawa, economista da Principal Claritas.
O foco do mercado estava em dois temas centrais para o início de 2025: o novo governo de Donald Trump nos EUA e a política de juros do Federal Reserve (Fed). Trump assume a presidência em 20 de janeiro, e há grande expectativa sobre sua política tarifária para a maior economia do mundo.
Na segunda-feira, o jornal The Washington Post informou que assessores de Trump estavam considerando taxar apenas as importações de setores considerados críticos para os EUA. Essa notícia, que representava uma mudança em relação à postura mais agressiva prometida por Trump na campanha, levou a um aumento na demanda por ativos de maior risco e fez o dólar cair por dois dias seguidos.
No entanto, Trump desmentiu a reportagem, e, na quarta-feira, a CNN revelou que ele estava considerando declarar uma emergência econômica nacional para justificar a imposição de tarifas sobre aliados e inimigos. Esse rumor fez o dólar se valorizar fortemente frente a outras moedas.
Durante sua campanha, Trump havia proposto tarifas de 10% sobre as importações globais, além de taxas de 60% sobre produtos chineses e de 25% sobre os canadenses e mexicanos. Especialistas afirmam que essas medidas afetariam os fluxos comerciais, aumentariam os custos e gerariam represálias. No cenário interno dos EUA, as tarifas também podem ter um impacto inflacionário, o que complicaria a luta do Fed contra a inflação, que já é uma preocupação desde 2020.
Se a inflação voltar a subir, o Fed pode ser forçado a manter os juros elevados por mais tempo. A taxa está atualmente entre 4,25% e 4,50%, após três cortes no ano anterior.
Com os juros mais altos nos EUA, o dólar se torna mais atraente para os investidores, já que os rendimentos dos treasuries (títulos do Tesouro dos EUA) aumentam. Na última reunião do Fed, em dezembro, a instituição indicou que poderia interromper o ciclo de cortes nas taxas de juros, embora tenha alertado que mudanças nas políticas comerciais e de imigração de Trump podem tornar o processo de controle da inflação mais demorado. A expectativa predominante é de que o Fed mantenha os juros inalterados na reunião de janeiro, com apenas 7% das apostas no mercado prevendo um novo corte de 0,25 ponto.
Para ajustar suas previsões, o mercado estará atento aos dados econômicos dos EUA. Na sexta-feira, será publicado o relatório de empregos de dezembro. "A preocupação é com o mercado de trabalho, que ainda está aquecido, e com a inflação, que voltou a subir, embora a queda tenha desacelerado. As políticas tarifárias de Trump também geram incerteza", afirmou Marcos Weigt, chefe de Tesouraria do Travelex Bank.
No cenário doméstico, o foco segue na política fiscal do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O pacote de austeridade proposto pela equipe econômica foi aprovado pelo Congresso em 20 de dezembro, mas com algumas alterações. Estimativas iniciais indicam que o governo deve economizar até R$ 20 bilhões em vez dos R$ 70 bilhões originalmente previstos para os próximos dois anos.
O mercado já pressiona por mais ajustes fiscais, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que há espaço para novas contenções. Em entrevista, ele indicou que o déficit primário de 2024 será de 0,1% do PIB, mas o número oficial ainda não foi divulgado. Se confirmado, o governo cumprirá a meta fiscal de 2024, que prevê déficit zero, com uma margem de 0,25 ponto percentual para mais ou para menos. Haddad afirmou: "Após dez anos de desajuste fiscal, estamos fazendo um ajuste estrutural. Se o plano for seguido conforme o planejado, teremos uma economia mais equilibrada do que a que herdamos."
No setor corporativo, as ações da Azul se destacaram positivamente, impulsionadas pela possibilidade de uma fusão com a Gol. Os papéis da Azul subiram 0,95%, após terem avançado mais de 7% no início do pregão. De acordo com o Valor Econômico, as duas companhias aéreas devem assinar um memorando de entendimento nas próximas semanas para discutir a fusão. A Gol, que está em recuperação judicial e fora do Ibovespa, teve suas ações disparando 9,03%.
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