Mesmo com tarifaço dos EUA, preço do café seguirá alto no Brasil, aponta
gazetadevarginhasi
10 de abr.
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Apesar da expectativa de queda nos preços após o anúncio de tarifas comerciais por parte dos Estados Unidos, o consumidor brasileiro não deve sentir alívio no bolso ao comprar café nas próximas semanas. Com uma alta acumulada de 66% no valor da bebida nos últimos 12 meses, os preços devem continuar pressionados nos supermercados e padarias do país.
A avaliação é de Márcio Ferreira, presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). Segundo ele, a instabilidade gerada pelas medidas protecionistas adotadas pelo presidente norte-americano Donald Trump não deve representar impacto significativo para o mercado brasileiro.
O setor cafeeiro acompanha com preocupação os desdobramentos das novas tarifas, que podem afetar não apenas o Brasil, mas também outros grandes produtores, como Colômbia, Indonésia e Vietnã. Um dos principais temores é a possível retração da produção global, diante de um ambiente de incertezas.
Ferreira, no entanto, afirma que a valorização do café foi impulsionada principalmente por fatores climáticos, como a seca e a baixa incidência de chuvas em 2023, além das geadas de 2021 em regiões produtoras no Sul de Minas e em Goiás. Esses eventos geraram forte volatilidade no mercado, mesmo diante de um volume recorde de exportações brasileiras em 2024, com 50,4 milhões de sacas embarcadas.
“Ainda que os efeitos climáticos sozinhos não justificassem os patamares de preços atingidos, eles aumentam significativamente a incerteza no mercado”, pontuou Ferreira.
Supermercados ainda não repassaram toda a alta
O presidente do Cecafé destaca que o preço do café ao consumidor ainda não reflete totalmente a alta internacional. “O café que chega aos supermercados foi precificado considerando uma saca abaixo dos US$ 300. Atualmente, o valor está na casa dos US$ 340. Para vermos uma redução significativa nos preços ao consumidor, seria necessário um recuo mais forte nas bolsas de Nova York e Londres e na cotação do dólar”, explicou.
Competitividade limitada
Mesmo com a aplicação de tarifas de 10% aos produtos brasileiros — em comparação com alíquotas de até 36% para o Vietnã —, Ferreira avalia que o impacto positivo para o Brasil no mercado norte-americano será limitado. “As exportações vietnamitas para os Estados Unidos giram em torno de 1,5 milhão de sacas, podendo chegar a 2 milhões em momentos de maior competitividade. Mesmo que parte desse volume seja substituído pelo Brasil, isso não implicará um ganho expressivo de mercado, sobretudo porque nossa safra será menor”, afirmou.
Exportações em queda, receita em alta
O balanço do Cecafé revela que, no primeiro trimestre de 2025, foram exportadas 10,707 milhões de sacas — volume 11,3% inferior ao mesmo período do ano passado. Em contrapartida, a receita cambial disparou 54,3%, totalizando US$ 3,887 bilhões.
“É natural essa retração após um ano recorde. Ainda enfrentamos gargalos logísticos nos portos, o que atrasa os embarques e aumenta os custos para os exportadores”, destacou Ferreira.
Ele acrescenta que, embora o cenário atual seja de cotações elevadas, mudanças nas políticas comerciais e os conflitos econômicos entre grandes potências podem alterar esse panorama nos próximos meses.
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