Até onde um torcedor pode ir para ver seu time do coração ao vivo? Para Júlio Drummond nem os limites do próprio corpo foram obstáculo para assistir ao Fluminense. Portador de esclerose lateral amiotrófica (ELA) - mesma doença que acometeu o ídolo Washington, do Casal 20, o tricolor esteve no Maracanã acompanhado dos filhos na noite desta terça-feira para testemunhar a vitória por 2 a 0 sobre o Argentinos Juniors e a classificação para as quartas de final da Libertadores.
- Não tenho palavras. Muito bom. O Fluminense é o maior do mundo pra mim - disse Seu Júlio, bem baixinho, fazendo esforço para falar.
Já em estágio avançado da doença, que afeta o sistema nervoso e enfraquece os músculos e as funções físicas, Júlio, de 63 anos, não tem mais os movimentos dos braços e das pernas, respira com a ajuda de aparelhos e fala com muita dificuldade. Nada disso o impediu de realizar o sonho de retornar ao estádio.
E quem proporcionou esse momento para Júlio foram os filhos Ricardo Drummond e Fernando Toledo, que prepararam toda uma logística para levar o pai ao estádio. Seu Júlio foi de cadeira de rodas, suporte de oxigênio e acompanhado de uma cuidadora. Ideia que, por pouco, quase não acontece Semanas atrás, Júlio precisou ser internado em razão de complicações da doença.
- A família toda é tricolor por causa dele. Ele passou a paixão incondicional dele para a gente. Ele desde pequeno trazia os filhos. Estar aqui é uma forma de retribuir todas as vezes que ele me levou. Agora é a minha vez de trazê-lo - conta o filho Ricardo.
Para tornar o feito ainda mais impressionante, Júlio e os filhos moram em Vitória/ES. Foram mais de 8h e 500 km percorridos de casa até o Maracanã para uma noite que ainda contou com a tensão de serem barrados ao tentarem entrar no estacionamento do estádio, mas, no fim, correspondeu às expectativas e se tornou inesquecível para a família Drummond.
Das arquibancadas do setor Norte do Maracanã, seu Júlio e a família sofreram com a demora do Fluminense em abrir o placar, mas vibraram com os gols de Samuel Xavier e John Kennedy e a classificação tricolor. Ao longo do jogo, receberam o carinho dos torcedores que conheciam a história previamente ou descobriram na hora.
A história de Júlio Drummond veio à tona nesta própria terça-feira, após uma foto e uma mensagem dele dizendo que ia ao jogo começar a circular em grupos de whatsapp e páginas de torcida tricolor nas redes sociais. Ele tem muitos amigos na Axé Flu, da Bahia, onde morou por anos. O Globo Esporte entrou em contato com o filho Ricardo e conseguiu acompanhar de perto a jornada da família no Maracanã.
Júlio começou a ter os primeiros sintomas há cinco anos. A doença acelerou a partir de 2019 e afetou consideravelmente a parte motora, respiratória e a fala. - Foi muito complicado. Em 2018 ele sentiu o lado esquerdo parar. Fomos no neurologista, que deu o diagnóstico. A partir do ano seguinte as coisas começaram a ficar mais difíceis e ano passado parou tudo (movimentos). É uma doença muito cruel, mas que não mexe com a cabeça. Fizemos um esforço, carro adpatado e estamos aqui. A morte da esposa, mãe de Ricardo, este ano, abalou ainda mais a família e prejudicou o quadro dele. E a paixão pelo Fluminense é o que une e fortalece os Drummond. - Perdi minha mãe esse ano. Está sendo um ano bem difícil. Ele foi internado de novo, não queria fazer os procedimentos, queria desistir. Eu falei da Libertadores. Talvez o Fluminense seja o grande motivo dele ter saído do hospital. Uma das coisas que mantém ele vivo é a paixão pelo Fluminense. Cada dia é uma vitória para um portador de ELA. Ainda mais em estágios avançados. Por causa disso, Ricardo prefere não fazer planos com o pai. Mas nada o impede de sonhar. Quem sabe poder estar com o pai mais uma vez em um possível Fla-Flu nas quartas e até em uma tão desejada final no Maracanã.
- É passo a passo. A ideia é trazê-lo na próxima fase, quem sabe contra o Flamengo e, se Deus quiser, na final. É um sonho muito grande ser campeão da Libertadores.
fonte: ge
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