Carlos Nobre: “Estamos vivendo o maior desafio da história da humanidade”
O ano de 2024 entrou para a história como o mais quente já registrado, com a temperatura média global aumentando 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais, desde o final do século 19, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM). Esse marco ultrapassou o limite considerado seguro para a estabilidade do planeta, conforme alerta o renomado climatologista Carlos Nobre, em entrevista à CNN Brasil.
Nobre destaca que o aumento de 1,5°C, que estava previsto para ocorrer entre 2033 e 2035, foi alcançado de forma prematura e surpreendente. "Com 1,5 graus, ou um pouco mais, todos os eventos climáticos extremos explodiram", afirma, mencionando recordes de chuvas, incêndios e secas em várias regiões, incluindo o Brasil.
O climatologista observa que, se as temperaturas se mantiverem nesse nível nos próximos anos, a ciência poderá confirmar que o limite de 1,5°C foi ultrapassado de maneira irreversível. Isso exigiria ações urgentes para reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa, uma década antes do prazo estipulado no Acordo de Paris, que visa cortar essas emissões até 2050. "Seria o maior desafio que a humanidade já enfrentou", alerta Nobre, enfatizando a necessidade de uma ação global coordenada.
O cientista também expressa preocupação com a possível diminuição do envolvimento dos Estados Unidos nos esforços climáticos, especialmente com o retorno do governo de Donald Trump, um cético declarado em relação às mudanças climáticas.
O papel do Brasil na mitigação climática
Carlos Nobre vê o Brasil como um potencial líder na transição para uma economia de baixo carbono. Ao contrário de outros grandes emissores de gases de efeito estufa, cujas emissões provêm principalmente da queima de combustíveis fósseis, as emissões brasileiras têm 75% de sua origem no uso da terra, incluindo desmatamento e agropecuária.
"O Brasil tem todas as condições de ser o primeiro grande emissor a zerar suas emissões antes de 2050", afirma o climatologista. Ele destaca a importância das metas brasileiras, como a de zerar o desmatamento até 2030 e realizar uma transição energética rápida, o que poderia posicionar o país como um líder global na neutralidade de carbono muito antes do prazo de 2050.
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