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Cabeleireira vence o câncer e realiza sonho da maternidade com técnica inovadora de preservação uterina


A cabeleireira catarinense Angélica Hodecker, que tinha apenas 30 anos e acabara de se casar, recebeu um diagnóstico devastador: câncer de colo de útero, o terceiro tipo de câncer mais comum entre as mulheres, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Jovem e sem filhos, ela tinha o sonho de ser mãe, mas viu-se diante de decisões urgentes que poderiam comprometer esse desejo. O tratamento inicial sugerido era a remoção do útero, ovários e trompas, o que significaria o fim da possibilidade de engravidar. “Se a doença só havia afetado o colo do útero, por que retirar tudo?”, questionava-se Angélica.

Ela procurou uma segunda opinião e encontrou uma alternativa: uma conização, que é a remoção da parte do colo do útero afetada pela doença, preservando os outros órgãos reprodutivos. Após a cirurgia, foi constatado que o tumor não foi completamente eliminado e ela precisaria de quimioterapia e radioterapia pélvica, o que a tornaria infértil. O congelamento de óvulos foi sugerido, mas uma futura gestação só seria possível por meio de barriga de aluguel, pois a radioterapia danificaria o útero, tornando-o incapaz de sustentar uma gravidez. Angélica rejeitou essa opção. “Não poderia interromper o tratamento para tentar engravidar, e se o câncer avançasse nesse meio tempo?”, explicou.

Foi então que, em busca de uma nova solução, ela encontrou uma técnica ainda experimental: a transposição uterina. Desenvolvida em 2015 pelo cirurgião oncológico Reitan Ribeiro, de Curitiba, essa técnica envolve reposicionar o útero, trompas e ovários para a parte superior do abdômen, entre o fígado e o umbigo, afastando-os dos efeitos da radiação. Após o término da quimioterapia e radioterapia, os órgãos são recolocados na posição original. Embora a técnica tenha sido realizada em outras mulheres com câncer ginecológico, o caso de Angélica seria o primeiro com câncer de colo de útero a ser registrado na literatura científica mundial.

“É uma técnica promissora e de baixo custo, que vem se mostrando viável para preservar a fertilidade de mulheres com câncer”, afirmou o ginecologista Renato Moretti, especializado em cirurgia robótica e câncer ginecológico. Angélica e seu marido decidiram tentar a transposição uterina, mesmo sem garantias. Estavam preparados para o pior e, se necessário, fariam o congelamento de óvulos ou optariam por adoção.

A cirurgia foi realizada com sucesso e, após a conclusão do tratamento contra o câncer, Angélica recuperou seus órgãos. Mesmo com algumas dificuldades relacionadas ao canal cervical, ela e o marido decidiram tentar engravidar naturalmente dentro de um ano. Surpreendentemente, cinco meses após o tratamento, Angélica descobriu que estava grávida sem precisar de nenhum tratamento de fertilização. “Fiquei incrédula, não acreditava que era verdade”, contou.

A gravidez foi acompanhada como de alto risco, devido à ausência do colo do útero, mas tudo ocorreu bem. Em 24 de dezembro de 2022, Angélica deu à luz Isabel, carinhosamente chamada de Bebel, que nasceu saudável, com 2,2 kg e 43 cm. A história de Angélica foi tão significativa que foi publicada no Journal of Surgical Oncology em agosto de 2024.

O caso de Angélica abre portas para que outras mulheres com câncer ginecológico possam se beneficiar da transposição uterina, preservando a fertilidade e realizando o sonho da maternidade. "Foi mágico. Eu jamais pensei que poderia viver isso", afirmou a mãe de Bebel.

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