Foi difícil achar um só tema para a coluna de hoje. Queria falar sobre a luta das mulheres para conseguir ser o que elas quiserem, já que estamos na semana de reflexões sobre elas (nós). Falar do quanto ainda precisamos caminhar para que tantas não acabem machucadas ou mortas por homens que se acham no direito de direcionar suas vidas. Falar sobre a mudança na lei da laqueadura e vasectomia que até mês passado exigia permissão do cônjuge para serem feitas. (lei 14.443/2022)
Mas a história das vinícolas do sul do país está engasgada, pedindo algumas palavras. Mais de 200 pessoas em situação análoga à escravidão, trabalhando 15 horas por dia em ambiente degradante, sendo agredidas e recebendo alimentação insalubre - como isso ainda acontece no século XXI? Como isso acontece por trás de marcas de prestígio no país - Salton, Aurora e Garibaldi? Marcas que, inclusive, tem em seu rótulo palavras como “sustentável” e outras afins, induzindo o consumidor a acreditar que são empresas que se preocupam com a retidão de toda cadeia produtiva, desde o cuidado com o meio ambiente até o cuidado com os seres humanos. A acreditar que possuem o índice ESG (Environmental, Social, Governance ou Ambiental, Social e Governança) – novo queridinho dos investidores, cujo “S” significa social, tanto em inglês como em português. E onde está o cuidado com o social? Em doações a entidades... coisas que aparecem na mídia? Mas e seus colaboradores? Aquelas pessoas que dão seu suor para produzir os produtos que fazem a empresa prosperar? Esse social fica como? Segundo o G1, os trabalhadores relataram ao MTE terem sido agredidos com choques elétricos e spray de pimenta, além de submetidos a cárcere privado e agiotagem. Revoltante.
Para completar a canalhice, um senhor vereador que não merece ter seu nome citado, revelando a sordidez de seus sentimentos preconceituosos, em discurso na câmara municipal de Caxias do Sul, sugere que esses trabalhadores são preguiçosos, estendendo o insulto a toda a população do norte/nordeste brasileiro ao sugerir que não se contrate mais “aquele povo lá de cima”. Depois vem chorar nas redes, desculpando-se, para tentar reverter a expulsão do partido (Patriotas) e a abertura de processo de cassação de mandato. Lágrimas de crocodilo!
Dias difíceis esses, de extrema descrença nos seres humanos.
* Luciane Madrid Cesar
Artigo gentilmente cedido pela autora a título de colaboração com a Agenda 21 Local.
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